sábado, 21 de maio de 2016

As escolas do Camboja

Escola em Battambang

Uma sala quase vazia. As paredes cheias de um angustiante nada. Apenas uma cama ferrugenta com correntes e algemas à cabeceira. No pavimento uma mancha cor de sangue. Será mesmo? Pessoas que entram e saem num silêncio profundo. No chão um simples xadrez de mosaicos laranja e branco.
Bem longe, uma sala cheia de crianças. Na parede um quadro de ardósia. As paredes cheias de posters, desenhos e alegria. Uma meia dúzia de filas de carteiras. É intervalo. Uns miúdos gritam, outros correm pelos corredores. Meninas, sentadas, conversam animadamente. No chão um simples xadrez de mosaicos laranja e branco.
Duas salas quase iguais. A primeira em Phnom Penh, na prisão de segurança S-21, uma escola onde as salas foram adaptadas para interrogatórios no tempo dos Khmer Vermelhos. Desde essa altura assim ficou, pois escola nunca mais poderá voltar a ser. Foi reconvertida no Museu Tuol Sleng para nos recordar o que nunca deve ser esquecido.
Museu do Genocídio Tuol Sleng
Não é comum, mesmo para quem o viveu, saber a duração exata de um regime político. Mas qualquer cambojano sabe que este perdurou por três anos, oito meses e vinte dias. Tempo suficiente para esvaziar as cidades, matar milhões à fome e massacrar outros milhares. Quando os Khmer Vermelhos foram expulsos do poder, um terço da população do país tinha padecido.
A outra sala fica também numa escola. Mas na pequena cidade de Battambang, onde aproveitei a minha estada para, dentro do possível, conhecer melhor a realidade do Camboja. Visitei templos, aldeias e também escolas. Graças a um condutor de tuk-tuk com um inglês admirável, escutei histórias de vida (desde a guerra do Vietname à atualidade) e testemunhei a dificuldade com que vive a maioria dos cambojanos. Mas ouvi, repetidamente, que o pior já passou, vi que o horrível passado foi aceite com uma serenidade budista, encontrei esperança e uma enorme vontade de mudança.
Escutei também, numa gruta usada pelos Khmer Vermelhos como campo de extermínio, os relatos de um sobrevivente desses tempos. Numa voz serena, este guia turístico, contava a um grupo as suas provações durante aqueles anos. A um canto, resguardado pelo escuro da gruta, fiz as contas. Tinha a minha idade.
Criança Camboja
Dias depois, já em Phnom Penh, eu e o Gonçalo, companheiro de viagem, fomos bem cedo visitar os Campos da Morte (o local usado como campo de extermínio na capital cambojana) e depois a prisão S-21. Nesta manhã pensava que ia mentalizado. Achei que mais forte que a gruta de Battambang seria difícil. Enganei-me.
No final da manhã, tentámos trocar algumas palavras sobre o que vimos, o que ouvimos (nos áudio guias) e o que sentimos. Balbuciámos umas palavras. Mas não consegui encaixar, se é que é possível encaixar, a dimensão do genocídio cambojano. Certos graus de magnitude vão além da minha compreensão. Apenas o final do dia, com vista para as animadas margens do Mekong, repôs alguma tranquilidade na minha mente.
Não esquecerei aquela manhã passada nos Campos da Morte e na S-21 e as horas passadas na escola em Battambang. Mas, acima de tudo, senti esta experiência como um vislumbre das duas faces da moeda que é a raça humana (talvez yin e yang seja mais apropriado). De como é possível um pequeno grupo de homens impor, em tão pouco tempo, uma mudança inimaginável numa sociedade. Um dia temos uma animada sala de aulas; no dia seguinte, no mesmo local, uma sala de tortura.

quinta-feira, 19 de maio de 2016

Joanesburgo, incompreendida e surpreendente

Centro de Joanesburgo, África do Sul

Quando, em março de 2012 deixei a Cidade do Cabo, depois de sete meses de viagem desde a Noruega, comprometi-me a voltar num prazo máximo de cinco anos. Tinham ficado coisas por fazer, lugares por visitar. Não viajara no Shosholoza, não subira sequer à Table Mountain naqueles oito dias na Cidade do Cabo, por pura preguiça de fim de viagem (devia haver um nome para isso, para essa inacção perante a eminência do fim e o cansaço do longo caminho percorrido).
Aquele mês na África do Sul, passado entre Joanesburgo e a Cidade do Cabo, deixara em mim uma estranha sensação de curiosidade, estranheza, medo e fascínio que eu desejava melhor compreender. Quatro anos volvidos, aqui estava eu de volta a Joanesburgo, na África do Sul, desta vez para começar uma viagem de 80 dias pela África austral e, por isso, sem desculpas para não fazer tudo o que queria e devia fazer (ou ter feito).

De regresso a Joanesburgo

A julgar pelos cruzamentos das grandes avenidas, pouca coisa mudara em Joanesburgo: nestes cruzamentos junto aos “robot” – como por aqui chamam aos semáforos -, continuam os mesmos obstinados limpa-janelas, incómodos para amaioria dos condutores; os mesmos malabaristas do diablo, os mesmos vendedores de carregadores de isqueiro; os mesmos anunciantes de colete refletor e anúncio espetado num capacete fluorescente.
Os índices de criminalidade não parecem ter diminuído e, por isso, a profusão de vedações eletrificadas ou de arame farpado continuam a impressionar no topo dos muros, já de si altos, das moradias.
Praça Nélson Mandela, Joanesburgo
Apesar de tudo, sabia-me bem voltar a Joanesburgo. Bastou sair do aeroporto para me deliciar com o cheiro do ar – esse perfume de África na noite quente – soprado por uma leve brisa que sacudia mansamente a copa das árvores nesta que é, contra todas as expectativas, uma das cidades mais verdes do mundo.
O que torna a cidade de Joanesburgo tão interessante é o seu lado surpreendente e improvável – mesmo que dela não se faça grande ideia. É um facto que ter família por aqui ajuda. Eles ensinaram-me, mesmo sem se darem conta, a apreciar a cidade.
No entanto, tenho consciência de que poucos encontrarão razões de sobra para visitar Joanesburgo. Mesmo para quem reside na maior cidade sul-africana, Joanesburgo continua a ser apenas o epicentro financeiro; lugar de trabalho onde escasseiam as distrações e onde o fosso social e as memórias doapartheid são mais evidentes.
Joanesburgo está longe de ser uma típica cidade africana – não seria sequer de esperar – devendo as suas raízes às vagas de emigração desde o tempo dos primeiros garimpeiros do ouro – como o confirma uma das inscrições do Museu do Apartheid: “nenhum outro lugar na África do Sul contém tamanha variedade cultural. Foi esta robusta mistura de nacionalidades, raças, culturas e línguas que deu a Joanesburgo o seu caráter único.” Assim é – e, quanto mais não fosse, qualquer visita vale por isso mesmo.
Museu do Apartheid, em Joanesburgo
Ao contrário da maioria das grandes cidades, com o centro tendencialmente ocupado pelas elites e os subúrbios povoados pelas classes menos favorecidas, Joanesburgo downtown é pouco convidativa e bairros como Hillbrow – aparentemente dominado por emigrantes africanos – são mesmo de evitar.
Em contrapartida, os subúrbios são urbanizações fechadas de moradias guardadas por segurança privada, perfiladas ao longo de ruas calmas e ensombradas, longe do centro e das infames townships como o Soweto ou Alexandra. Têm um certo ar americanizado, como Melville – provavelmente um dos bairros mais interessantes da cidade.
Com uma vibrante rua de cafés, bares e restaurantes e um bom leque de guesthouses, Melville é sem dúvida o lugar ideal para ficar e sentir a cidade, preparar um braai (tradicional churrasco) ao final da tarde, em redor da piscina e ao som do canto dos ibis negros de bico de foice, admirando os ninhos de tecelão pendendo das acácias, especialmente depois de um dia de muito calor, como os que por agora se têm sentido.
Ainda a propósito de Hillbrow, é possível ter um vislumbre do bairro a partir do antigo forte do agora Constitution Hill. Não sei se parece assim tão assustador ou se é apenas por sugestão de tudo quanto fui ouvindo a seu respeito, mas o que é certo é que não arriscaria percorrer aquelas ruas de prédios altos repletos de parabólicas, lojas mal-arranjadas e montras coloridas com os logótipos de operadoras de telefone, e táxis coletivos num pérpetuo vai e vem.
Já quanto ao Constitution Hill, é de visita “obrigatória”. Este forte, construído durante a guerra dos bóeres, serviu como estabelecimento prisional para invasores britânicos e prisioneiros políticos durante o período do Apartheid. Nelson Mandela passou aqui um ano em cativeiro.
Recentemente, foi parcialmente reconvertido em Tribunal Constitucional, albergando no seu interior uma coleção de arte de mais de 200 obras de autores contemporâneos. Na visita ao que resta do presídio, é possível perceber como até ali a segregação racial imperava, cabendo aos “brancos” mais alimento, mais espaço, mais tudo…
Outro dos locais que aconselho a visitar em Joanesburgo é o Museu do Apartheid. Possui uma fantástica exposição que nos transporta no tempo através da história, não só desse negro período, mas desde o tempo dos primeiros garimpeiros e fundadores da cidade, que em pouco mais de cem anos passou de um amontoado de tendas a uma das mais vibrantes cidades do mundo.
Pode, por exemplo, ficar a conhecer a descendência do português que organizou a primeira festa de natal de Joanesburgo, ou perceber como se organizava uma sociedade baseada na segregação racial e como essa mesma sociedade lutou e sofreu para derrubar esse racismo imbecil.
Pode perceber o ridículo de um sistema que catalogava as pessoas pela cor da pele, atribuindo-lhes direitos e deveres diferentes, mas que contemplava a possibilidade dessas mesmas pessoas mudarem de cor. A segregação racial levou à criação de zonas residenciais apenas destinadas a negros, comoAlexandra ou o Soweto, e em determinada altura a zonas semi-independentes onde a comunidade negra deveria viver, passando a necessitar de uma espécie de “livre-trânsito” em caso de convite ou trabalho, para entrar na “cidade dos brancos”. Um sistema que procurava impedir a miscigenação e a igualdade.

Soweto, a maior township de Joanesburgo

Desse período, permanecem ainda muitas das townships então construídas. O Soweto é a maior de todas, com uma população de mais de três milhões de pessoas, e qualquer visita a Joanesburgo ficará incompleta sem uma ida ao Soweto. Como se diz por ali: quando o Soweto espirra, toda a África do Sul constipa. É o coração da cidade, durante anos separado do seu corpo.
Visita ao Soweto, Joanesburgo
E a visita é tão mais importante, para que se perceba a injustiça da infâmia e da incúria a que o Soweto tem sido votado. Estou certo que uma grande percentagem da população branca de Joanesburgo nunca ali pôs os pés, com a desculpa do medo de uma suposta violência. Por outro lado, pode parecer voyeurismo a visita a um lugar como o Soweto, mas a verdade é que só assim se entende plenamente a cidade de Joanesburgo.
Soweto não é um amontoado de casas de lata (ainda que as haja), é muito mais que isso. É o berço de gerações lutadoras e outras que procuram agora virar a página e caminhar no sentido das palavras deMadiba, no sentido de uma nação multicultural e igualitária. Em Joanesburgo percebe-se que há ainda muito caminho a percorrer, mas é precisamente aqui, lugar de tantas batalhas, que melhor se sente a vontade sul-africana de o percorrer.

terça-feira, 17 de maio de 2016

Harajuku, a zona mais cool de Tóquio

Cosplay em Harajuku, Tóquio

Harajuku, no bairro de Shibuya, foi um dos primeiros lugares que visitei em Tóquio e foi, literalmente, amor à primeira vista. O passeio desde Shinjuku fez-se pela Meiji Dori, por entre edifícios residenciais e ruas quase desertas, mas a chegada ao bairro foi bem marcante: ruas cheias, coloridas e ruidosas, lojas das marcas mais conhecidas entre os jovens japoneses e luzes vibrantes que anunciam ter chegado à zona mais cool da cidade.
Depois de conhecer razoavelmente bem Harajuku, é possível dividir a zona em três áreas mais ou menos distintas: Takeshita Street; Meiji Dori e Ometosando Street; e Harajuku Street e Ura-Harajuku (ou Cat Street). É sobre cada uma dessas áreas que escrevo, para o ajudar na hora de visitar Harajuku.

As zonas de Harajuku, Tóquio

#1 Takeshita street

Takeshita Street é uma das muitas ruas paralelas à Meiji Dori. Mas não é só mais uma rua. É em Takeshita Street que encontramos a cultura pop japonesa mais bem representada. Por aqui, os cabelos pintam-se de cores garridas, as mochilas são de pelo ou com os padrões mais bizarros que possa imaginar, caminha-se em cima de plataformas altíssimas, em sapatos de solas bem grossa e, de preferência, brilhantes, os gorros têm focinhos de animais e as camisolas têm estampados que vão desde onigiris e peças de sushi até ao padrão da roupa das personagens de ficção.
Takeshita street em Harajuku
As roupas não combinam, mas ninguém se preocupa com isso. Em Harajuku, ninguém olha nem julga. Também os cos players (aqueles que se vestem como os seus personagens favoritos de manga e anime) se passeiam por Takeshita como se nada fosse e, do meu lado, se a vergonha, a dificuldade em comunicar e o medo que possam levar a mal já tivessem sido ultrapassados, as fotografias destas personagens da vida real já se acumulariam nos meus registos.
Apesar de Takeshita Street ser apenas uma rua, as suas paralelas continuam este “mundo à parte” de lojas que despertam a curiosidade dos turistas. Mas, se a ideia é visitar Takeshita com pouca gente, então o melhor é ir cedo, ainda antes das lojas abrirem, porque o mais certo é que, por volta das 10:00 – 10:30 da manhã, já seja difícil circular. E atenção, a circulação em Takeshita faz-se tal e qual como na estrada no Japão: pela esquerda.
O ideal será descer a rua e voltar a subi-la, para garantir que não fica nenhuma loja por explorar, nem nenhum recanto por conhecer. Vale e pena perder tempo a conhecer estas ruas de Harajuku que nos mostram como é, de facto, a cultura pop japonesa.
Paragens obrigatórias serão a Daiso, onde (quase) todos os produtos custam 108 ienes (com taxas incluídas) e onde se encontra papel de origami bonito, bom e barato, a Tutu Anna para meias bem diferentes e tipicamente japonesas e, antes de sair da Takeshita Street em direção à Meiji Dori, visitar acreperia Santa Monica para um delicioso crepe enrolado – a mistura de crepe, bolo, gelado e frutas nunca deixou ninguém ficar mal, pois não?

#2 Harajuku street e Ura-harajuku

Do outro lado da rua fica Harajuku Street. Mais uma vez não é apenas uma rua, mas sim várias ruelas que acolhem um género de pessoas totalmente diferente daquele que se encontra em Takeshita Street.
Loja vintage em Harajuku Street, bairro Shibuya
Em Harajuku Street o ambiente é muito mais casual e moderno, mais da moda, repleto de jovens cheios de estilo. Eles de casaco de cabedal, calças curtas, meias coloridas e um ar muito rockabilly. Elas de oxford shoes, calças de padrões variados – sempre com cair perfeito e quase sempre curtas – e bomber jackets.
As lojas são decoradas ao pormenor, ao melhor estilo nórdico, onde menos é sempre mais, e amontoam-se as lojas de artigos em segunda mão, quase sempre de qualidade inegável e de marcas que, mesmo nas mãos de segundos donos, prometem durar uma vida. O ritmo calmo e descontraído e a decoração com base nos neutros que se encontra em Harajuku Street contrasta de forma vincada com a agitação e as cores vibrantes de Takeshita Street.
Obrigatório visitar são o café Deus Ex Machina, onde se comem sandes divinais e onde os empregados têm o ar mais cool de sempre, a loja Kinsella – cuja montra vale a pena apreciar para quem é fã de E.T. – e as várias lojas de artigos em segunda mão.
Loja em Harajuku Street
Caminhando na direção de Shibuya, e atravessando Ometosando Street, encontra-se Ura-Harajuku – ou Cat Street. Para os amantes de lagosta é obrigatório parar no Luke’s Lobster. A cadeia é americana, mas as sandes são deliciosas e as filas bem longas enchem-se de japoneses e turistas, gulosos e esfomeados. Parar também na S.K.U. (Save Kakhi United) para peças bonitas, minimalistas e de boa qualidade e na Book Marc, a livraria por Marc Jacobs que vende livros de arte, cultura e moda de artistas que inspiraram o estilista.

#3 Ometosando Street e Meiji Dori

Meiji Dori e Ometosando são as ruas que imaginaríamos mais tradicionais para uma tarde de compras, passada algures entre a Avenida da Liberdade e a Baixa de Lisboa.
Em Meiji Dori encontram-se as lojas habituais que fazem as delícias de qualquer jovem. Desde a Forever 21 à Levi’s, passando pela giríssima Nikoand. É paragem obrigatória a Asoko, com artigos a preços baixos mas design jovem, colorido e apelativo, de todos os artigos e mais alguns, como os essenciais para qualquer casa, ou para rechear o escritório de coisas bonitas e baratas, e o centro comercial La Foret.
Já Ometosando Street procura distinguir-se e apelar a um público-alvo com carteiras mais recheadas. Há quem lhe chame Champs Elysées de Tóquio, e a ideia que possam criar na vossa cabeça não ficará aquém das expectativas – se ignorarmos previamente a ausência do Arco do Triunfo. Aqui vale a pena não perder a Chanel (para os fãs da marca), a Shu Uemura, e a MAC Cosmetics, que é difícil encontrar como loja de rua e com tanta variedade de produtos. Para quem se queira dedicar a um shopping spree, nada como visitar Ometosando Hills e aproveitar para, ao mesmo tempo, apreciar um belo exemplar de arquitetura moderna.

segunda-feira, 16 de maio de 2016

O que fazer em Roma

Seria necessário viver muitas vidas, ou ser um turista em tempo integral, 365 dias por ano, para tentar conhecer tudo aquilo que Roma tem a oferecer. Afinal, são mais de 2.760 anos de história, desde a sua fundação.
Mas se Roma é ligada sobretudo às suas antiguidades e ruínas, também é verdade que há muito mais a ser descoberto: da street art à arquitetura moderna, passando pela lenta mais inexorável modernização (sem radicalizações ou exageros) da gastronomia local. Aqui estão um punhado de dicas para você curtir o melhor de Roma.

#1 Obras-primas expostas gratuitamente dentro das igrejas romanas

Caravaggio em San Luigi dei Francesi, Roma

Muito daquilo que em outras cidades do mundo se encontram dentro dos museus, em Roma pode ser visitado (gratuitamente) dentro das igrejas romanas.
Há pelo menos dois “roteiros” para os amantes da pintura e da escultura: o primeiro é visitar as três igrejas romanas que, no total, hospedam seis quadros de Caravaggio. São elas: a Basílica de Santa Maria del Popolo (Piazza del Popolo), a Igreja de San Luigi dei Francesi e a de Santo Agostino (ambas entre o Panteão e Piazza Navona).
Se além dos Caravaggios, você também quiser admirar bem de pertinho algumas das esculturas mais belas de Michelangelo, o conselho é contemplar o Cristo Redentor, na Basílica de Santa Maria Sopra Minerva (coladinha no Pantheon), e o Moisés na Basílica de San Pietroin Vincoli (ali pertinho do Coliseu).
Enquanto a maioria dos visitantes se acotovela para ver (e fotografar!) a Pietà, na Basílica de São Pedro, as demais esculturas do génio renascentista passam quase despercebidas pela maioria dos turistas.

#2 Vistas panorâmicas de Roma (simplesmente brutais)

A cidade de Roma vvista do terraço Vittoriano

Uma das maiores emoções que Roma pode reservar é ser admirada do alto. Há inúmeras possibilidades, das mais famosas às mais inusitadas, das pagas às gratuitas.
O panorama da cidade revela inúmeras surpresas aos olhos mais curiosos e atentos. Como num quebra-cabeça, há uma mistura eclética de estilos: cúpulas barrocas, palácios renascentistas, ruínas da antiguidade e de época medieval, e até arquiteturas do séc. XX e XXI.
Um dos aspetos mais belos das vistas panorâmicas é ter a oportunidade de contemplá-la longe das massas, pois Roma é uma cidade com forte presença de visitantes durante todo o ano. Algumas das melhores vistas são: o terraço panorâmico do Vittoriano, o terraço panorâmico do Coliseu (geralmente aberto de abril até novembro), os seis miradouros (mirantes) do Palatino, o Gianicolo (um miradouro com jardim que se debruça sobre o Trastevere), o terraço panorâmico do Castelo Santo Ângelo e também a cúpula da Basílica de São Pedro, no Vaticano.

#3 Roma também tem arquitetura moderna e street art

O que fazer em Roma: Street art em Tor Marancia

A linha do tempo de Roma é comprida demais, o que nos permite contemplar achados antiquíssimos. Mas, se é verdade que a cidade é lembrada sobretudo pelas suas antiguidades, Roma está viva e continua deixando um legado para os séculos e gerações vindouras.
Grandes arquitetos de fama internacional contribuíram recentemente com novas construções: a iraniana Zaha-Hadid (MAXXI, Museo dele Arti del Secolo XXI), o americano Richard Meier (a Ara Pacis de Augusto) e o italiano Renzo Piano (Auditorium Parco della Musica).
Se nas áreas mais centrais temos a presença de grandes arquitetos, é na periferia (e non solo!) que a arte de rua encontra a sua força. Demorou, mas a street art fincou seus pés na Cidade Eterna, reunindo os melhores artistas locais e internacionais.
Nomes como Alice Pasquini (por muitos considerada a “Bansky italiana”), Blu (famoso artista italiano cujo nome verdadeiro permanece no anonimato) e Vhils, pseudónimo do street artist português Alexandre Fartodeixaram seu legado nas ruas de Roma. Fundamental ir ao bairro de Tor Marancia e também conhecer o projeto Ostiense District.

#4 A Intimidade da Cidade Eterna nas primeiras horas da manhã

Visitar Roma: Piazza Navona

Pode parecer loucura sugerir que alguém acorde cedo, bem cedo, durante as férias. Mesmo correndo o risco, aconselho em alto e bom som a ir para a rua nas primeiras horas da manhã.
Ver a Fontana di Trevi vazia e escutar a sinfonia musical das águas que dela jorram é uma experiência única. E que tal dali ir também até a Piazza del Campidoglio e, de lá, ver as ruínas do Fórum Romano? Seu passeio perfeito e silencioso pode terminar na Piazza Navona que, nas primeiras horas do dia, proporciona um espetáculo único: admirar as suas fontes majestosas (inclusive a mais famosa, a Fonte dos Quatro Rios, de Gian Lorenzo Bernini) como se elas fossem exclusivamente suas.
O melhor horário para contemplar essas maravilhas é volta das 7:30 da manhã.

#5 Comida de rua entre tradição e “nuovacucina

Pizzas gourmet de Gabriele Bonci

Em Roma sempre existiu uma forte tradição de comida de rua local. Muitos antes que se falasse maciçamente de street food, já saímos por aí a comer supplìs (um delicioso “croquete” de arroz com tomate, recheado com mozarela) e a famosa pizza al taglio, pedaços de pizza quentes que podem ser combinados com qualquer ingrediente.
Muitos novos chefs aproveitaram a ocasião e uniram essa forte tradição local aos ventos da “nova cozinha”. Hoje, a comida de rua tradicional (daquelas antigas rotisserias italianas com mammas e nonnaspilotando o fogão) convive pacificamente com a comida de rua moderna e ousada… ma non troppo!
Locais que não decepcionam: Forno Campo e Forno Roscioli (duas panificações famosas no Campo de Fiori), Supplizio (Campo de Fiori) Bonci Pizzarium (nos arredores dos Museus Vaticanos), e La Pizza del Teatro (nos arredores da Piazzaavona).