domingo, 24 de abril de 2016

24 horas em Madrid

Plaza de Cibeles, Madrid
Madrid é uma grande cidade europeia e, por isso, nenhum roteiro de um dia poderá ser um top de atrações turísticas nem tampouco responder à eterna questão sobre “o que fazer em Madrid”. É, ao invés, uma visão pessoal sobre um dia bem passado na capital de Espanha, especialmente para quem pretende visitar Madrid pela primeira vez ou deixar-se guiar na descoberta da cidade, que poderá incluir numa estadia mais prolongada em Madrid.

Madrid em 24 horas

Manhã

Começa o dia com um pequeno-almoço bem castizo: churros e porras com chocolate quente, ou café com leite para quem precisa de cafeína de manhã. A Chocolateria San Ginés, aberta há 120 anos, serve-os 24 horas por dia.
Segue pela Calle Mayor, para Este (esquerda), passando pela Puerta del Sol. Cumprimenta de longe a estátua do urso, ponto de encontro de meia Madrid e provavelmente a mais fotografada de toda a cidade. Vira para a esquerda, seguindo sempre pela Calle de Alcalá até chegares à Plaza Cibeles.
Lugar mítico de multidões, esta é a praça onde os madrilenos se dirigem quando querem celebrar algo, quando se manifestam contra o governo e quando o Real Madrid ou a seleção espanhola ganham campeonatos de futebol. Aparte essa mística, é uma praça com vários edifícios de relevo. A fonte que constitui o meio da praça, com a Deusa da Fertilidade numa carruagem puxada por leões; o Palácio de Cibeles, sede do Ayuntamento de Madrid e centro cultural (se vieres com mais tempo, é um ótimo lugar para passar algumas horas); o Banco de Espanha e o Palácio de Linares. Se olhares na direção por onde continua a Calle de Alcalá, poderás avistar a Puerta de Alcalá, uma das cinco antigas portas reais, que davam acesso à cidade.
Segue para Norte, subindo o Paseo de Recoletos. Esta é a alameda mais antiga de Madrid. Zona de palacetes e jardim público desde o século XIX, foi renovado em 2002 de modo a incluir mais áreas verdes e pedonais. O projeto desta renovação foi ganho pelo arquiteto Português Álvaro Siza.
Biblioteca Nacional, Madrid
Entra na Biblioteca Nacional de Espanha. Se te interessarem, aprecia as exposições temporárias. Se não, absorve apenas a beleza de ter mais de cinco milhões de livros num edifício do século XIX. Para além do acervo trazido de França por Felipe V e de outras doações feitas ao longo dos séculos, desde 1715 (quando a biblioteca ainda era noutro edifício) que recebe um exemplar de todos os livros publicados em Espanha. Repara nos nomes dos grandes escritores espanhóis, gravados nas paredes do Salão de Leitura, e das províncias, no teto.
Ao lado da biblioteca estão os Jardines del Descubrimiento. Vai espreitar o monumento em cimento avermelhado, em cima de um espelho de água que realça a sua forma de barco. Tem gravadas profecias relativas à Descoberta da América e relevos de figuras de navegadores, reis, índios e todos os que participaram e foram atingidos de alguma forma por esse empreendimento.
Olha para o lado oposto do jardim, passando a Plaza Colón. Vais avistar as Torres de Colón, um dos primeiros edifícios modernistas da cidade, apelidado pelos madrilenos de el enchufe (a tomada) devido à sua forma. Em 2008 foi eleito pela virtual tourist como o sexto edifício mais feio do mundo.
Volta ao Paseo de Recoletos e apanha o autocarro 14, no sentido de volta à Plaza Cibeles. Agora tens duas opções para passar o resto do dia.
a) Museu do Prado
Se tens um grande interesse por Arte e museus, não podes deixar de visitar o Museu do Prado. Junta-lhe os jardins do museu e vais estar ocupado até à hora de jantar. Sai do autocarro na paragem Plaza Prado/Plaza Murillo. Provavelmente vais ter de esperar bastante tempo na fila para entrar. 
b) Parque do Retiro e vida de Bairro em La Latina
Sai do autocarro na ronda de Atocha. Ao lado da Plaza Emperador Carlos V está um dos bares mais autênticos de Madrid. O El Brillante é despretensioso e famoso pelas bocatas. Pede uma de calamares com maionese para levar e volta para Atocha, para entrares no Parque del Buen Retiro.

Almoço

Palácio de Cristal, parque de Retiro, Madrid
Escolhe o lugar que mais te agrade para te estenderes na relva a comer a bocata. Dorme uma sesta debaixo de uma árvore ao pé da lagoa, ou do palácio de Cristal. Está descansado que a sandes é mais que suficiente, já aí vem comida a meio da tarde. Estás na cidade das tapas!

Tarde

Sai do parque pela Plaza Parterre. Vai sempre em frente, pelas Calles Felipe IV e Cervantes. Na Calle Leon vira à esquerda e depois à direita para a calle Magdalena. Continua pela Calle Collegiata até chegares à Plaza de la Puerta Cerrada. Chegáste ao bairro La Latina, que foi o primeiro espaço urbano de Madrid, na Idade Média. A arquitetura e distribuição do bairro refletem esta origem com ruas estreitas e inclinadas e prédios baixos com azulejos.
O melhor desta zona é mesmo perderes-te pelas ruas e praças, sentar nas esplanadas a beber uma caña e sentir o ritmo do bairro. Com a Plaza de la Puerta Cerrada pelas costas é calcorrear as Calles Cava Alta, Cava Baja, Nuncio ou del Almendro, passando de umas para outras pelas ruelas que as unem.
Se a fome já apertar, a rosca depringa (carnes do cozido trituradas) na Taberna Almendro 13 é uma ótima (e gigante) opção para acompanhar a cerveja.
Plaza de la Paja, Madrid
Procura desembocar na Plaza de la Paja, onde se dispõem várias esplanadas, prédios coloridos e a Capilla del Obispo ao fundo, ou na Plaza de San Andrés, com a igreja com mesmo nome e a vida de tabernas e esplanadas que se sente em todo o bairro. Aqui está também o Museu San Isidro, se quiseres ficar a conhecer mais sobre a história de Madrid.
Volta a subir na direção da Plaza de la Puerta Cerrada, pela Calle Toledo. Segue sempre nesta rua até chegares à Plaza Mayor. Aprecia o que é um dos pontos turísticos mais conhecidos da cidade, mas não te demores. Tanto turismo já descaracterizou o que foi o principal local de comércio durante séculos.
Sai pelo pórtico que dá para a Calle Siete de Julio. Segue pela Calle de las Fuentes, Costanilla de los Angeles e Calle San Bernardo, sempre a subir.
Quando atravessares a Gran Via vais entrar no Bairro de Malasaña. Conhecido por ter sido o berço daMovida Madrileña dos anos 80, foi um bairro degradado e entregue à prostituição e tráfico de drogas durante muito tempo. Nos últimos anos, como tem acontecido por essa Europa fora, o afluxo de artistas e gente criativa, e o investimento de privados fez com que se tornasse no bairro mais trendy de Madrid. A gentrificação é um problema real, mas ainda assim continua a sentir-se aqui um ambiente que é ao mesmo tempo moderno e tradicional. Uma pequena aldeia dentro da cidade.
Gran Via, Madrid
Se te interessa a arte urbana tens muitos murais para descobrir e até as grades que cobrem as portas dos bares e lojas fechados podem ter verdadeiras obras-primas pintadas. A galeria (Es)positivo apresenta obras de artistas espanhóis e internacionais e funciona também como centro cultural.
Vai subindo para Norte, em direção à Plaza del 2 de Mayo, sem pressas. Esta praça é um dos centros nevrálgicos do bairro, sempre cheia de gente a passear, na conversa, ou a beber, de dia ou de noite. Construída em 1869, presta homenagem ao levantamento popular dos madrilenos em 1808, que inspirou a vaga nacional de protestos que levou à Guerra da Independência Espanhola. A estátua em frente ao arco que se encontra no centro da praça é de 1831 e representa Daoz e Velaverde, heróis deste levantamento.
Vais chegar aqui quando chegares. Sente a vida do bairro, para para beber um copo, tapear e beber mais um copo a seguir. Repara nas lojas de roupa vintage, cafés e restaurantes modernos, cafés tradicionais, lojas de discos e livrarias antigas. Abundam as galerias de arte e os bares. Vais seguramente cruzar-te com muitas bicicletas e homens de barba com óculos de massa, mas também pessoas mais velhas e famílias que aqui vivem há várias gerações.
Horto urbano no Patio Maravillas, Madrid
Não deixes de passar pelo Patio Maravillas, se o centro ainda se mantiver no edifício que ocupou na Calle Pez há seis anos (estão com ordem de despejo da câmara há meses, mas têm-se mantido por lá com o apoio dos vizinhos e de toda a gente que usa o centro e acredita nos seus valores). Este é um Espaço Polivalente Autogerido. Um centro social constituído por vários coletivos de gente que oferece atividades de forma gratuita e segundo a economia da dádiva e da troca; promove atividades culturais e de discussão social e política; tem uma horta urbana e um mercado agro-ecológico promovido pelos habitantes do bairro.

Fim de Tarde / Noite

Começa a noite com aperitivos. Podes tomar um bom vermut na Bodega Rivas ou, se te apetecer um ambiente mais chic vai ao 1862 Dry Bar.
Ao jantar podes ir saltando de lugar em lugar, ou então escolhe um destes para ir ficando. No Bodegas de La Ardosa não te esqueças de molhar o pão no salmorejo nem deixes de provar o pincho de tortilha espanhola. Há madrilenos que se questionam se a salada russa deles é ou não melhor que a da mãe.
A Casa Julio é famosa pelas croquetas (e por ter sido palco de um vídeo dos U2). O El Palentino é um clássico de Madrid, aberto das 8 da manhã à 2 da madrugada. É a verdadeira tasca de bairro a cheirar a fumo e fritos, com balcões de alumínio, lâmpadas fluorescentes e espelhos por todo lado. Podes passar por cá para comer umas tapas ou bocatas simples e baratas, ou beber um copo depois do jantar com os velhotes do bairro sentados ao balcão (mais a enchente de tantos como tu que por cá passam, se vieres tarde).
Gastronomia espanhola
Daqui podes seguir para vários clássicos da noite madrilena, situados neste mesmo bairro. O Tupperware anima a noite desde os tempos da Movida. A decoração colorida e excessivamente pop pós-moderna (pensa: cores psicadélicas, barbies, televisões sem ecrã cheias de bonecos de plástico…) resulta surpreendentemente bem. No andar de cima podes estar mais tranquilo, sentado a beber um copo e conversar. No piso inferior dançar ao ritmo de rock e indie, dos anos 80 até aos dias de hoje.
O La Via Láctea, também ativo desde o final dos anos 70, é muitas vezes apelidado de “bar mais lendário de Madrid”. Está forrado a posters de espetáculos antigos e grandes do rock, tem dois andares, uma mesa de snooker, e muitos recantos. A música anda à volta do rock e punk. Há quem lhe chame o CBGB Espanhol.
Qualquer um destes bares/discotecas, como quase todos nesta zona, fecham às 3 da manhã. Se te apetecer dançar até mais tarde, vais ter de ir até um dos clubs maiores espalhados pela cidade. Tens muitas opções. Estas três são das mais conhecidas de Madrid: o Pacha está aqui mesmo no bairro; para o Kapital, com sete andares, e o Joy Eslava, o mais prático é apanhares um táxi. Nestes sítios é cobrada entrada e têm todos um ambiente menos descontraído e um pouco mais snob. Os rapazes terão de estar de camisa e sapatos e as raparigas na onda do salto alto e maquilhagem caprichada.

Fim de noite

Junta-te aos taxistas em mudança de turno, motoqueiros madrugadores, betinhos de fato e restante gente da noite para um pequeno-almoço/ceia que tanto pode ser de churros e leite com chocolate, como patatas bravas e croquetas ou sandes de orelha, no Iberia, em Malaseña.
Vai dormir.

sexta-feira, 22 de abril de 2016

24 horas em Lisboa

Telhados de Alfama, Lisboa

Apesar de Lisboa ser uma capital de dimensão relativamente reduzida, este roteiro de um dia em Lisboa não pretende ser um top de atrações turísticas nem responder à eterna questão sobre “o que fazer em Lisboa”. É, ao invés, uma visão pessoal sobre o que poderá ser um dia bem passado na cidade, especialmente para quem pretende visitar Lisboa pela primeira vez ou deixar-se guiar na descoberta da cidade. É por isso mesmo uma viagem feita de escolhas, porque 24 horas é pouco tempo para conhecer Lisboa.

Manhã

Permite-te acordar naturalmente. Acredita, vais agradecer-me mais tarde.
Começa entre o Bairro Alto e o Príncipe Real, debruçado no miradouro de São Pedro de Alcântara. Aprecia a vista do rio, do castelo e dos telhados da colina em frente e sente o sol da manhã na cara.
Diz bom dia ao velhote que passeia o seu cão. Se ainda não comeste, toma o pequeno-almoço no quiosque. Se comeste, bebe um café.
Visitar Lisboa: Calçada da Glória
Desce a Calçada da Glória a pé, ou no elevador, e aprecia os painéis com graffiti à tua esquerda. Nos Restauradores, apanha o metro e sai no Marquês de Pombal. Sobe o Parque Eduardo VII. Repara na fonte que está no topo. É uma homenagem ao 25 de Abril, feita por um escultor Português famoso (João Cutileiro). Sim, parece um pénis.
Atravessa a rua e entra no Jardim Amália Rodrigues. Circunda-o até avistares uma ponte de madeira. OCorredor Verde de Monsanto começa aqui e leva-te até ao Parque Florestal de Monsanto, os “pulmões” da cidade de Lisboa.
Caminha dois quilómetros. Rebola nos relvados, admira as manobras dos skateboarders, aprecia a arte urbana e repara nas pequenas hortas. Amaldiçoa os hotéis horríveis à tua direita e maravilha-te com a imponência do Aqueduto das Águas Livres à tua esquerda (que podes visitar).
Visitar Lisboa: Aqueduto das Águas Livres, Lisboa
Não desistas quando chegares à ponte que parece uma autoestrada – estás no caminho certo. Atravessa-a e passa por baixo do viaduto, seguindo o caminho marcado. A mancha de verde que é Monsanto vai aparecer à tua frente. Relaxa um pouco e regressa seguindo o mesmo caminho, de volta ao metro. Ou então passa o resto do dia em Monsanto… não faltam coisas para fazer.
Hora de Almoço
No metro, sai na Baixa/Chiado para a Rua do Crucifixo. O Oito Dezoito está na esquina com a Rua de São Nicolau. Almoça dois pratos de cozinha tradicional de autor por 10€. Vai-te apetecer uma sesta, mas sai para beber uma bica em vez disso.
Na Pérola do Rossio fazem a sua própria mistura de café e moem-na na hora. Por cinquenta cêntimos pode beber-se um shot de cafeína bem aromático. Compra um pacote de uma das misturas da casa, moída a pedido para o tipo de máquina que tenhas.
Passa pelos turistas avermelhados amontoados na esplanada da Casa Suíça. Parece que estão a fazer fotossíntese. Vira na segunda à direita e não bebas a ginginha d’A Ginginha – vais encontrar melhor mais à frente. Espreita o interior da Igreja de São Domingos: repara nas cores das colunas de mármore e no altar preto, queimado. É lindo, e mórbido. Mas eu acho todas as Igrejas um pouco mórbidas.
Viajar Lisboa: Largo da Severa, Mouraria
Continua pela rua à tua esquerda até chegares ao Martim Moniz. Vê se há alguma exposição na praça e pensa em voltar e almoçar num dos muitos quiosques, noutra altura. Não cedas à vontade de te estenderes nas espreguiçadeiras em frente à fonte, atravessa a estrada e vira à esquerda depois da Igreja da Sra. da Saúde. Estás no bairro da Mouraria.
Vira à direita quando vires a estátua da guitarra Portuguesa e segue em frente até veres, do lado direito, uma porta com o letreiro “Amigos da Severa”. Viste, eu disse que havia um sitio melhor para a ginginha. Conversa com o Sr. António e tenta perceber se ele estará bêbado ou não. Não vais chegar a nenhuma conclusão. Felicita-o pelos 35 anos que leva a trabalhar aqui, bebe mais uma, ou duas, e segue caminho, ligeiramente “tocado”.

Tarde

No cimo da rua está o Largo da Severa. Reza a lenda que é o sítio onde nasceu a primeira cantora de Fado famosa. A sua casa é agora um restaurante e casa de fado.
Deambula pelo bairro até chegares à Rua de São Lourenço (dica: vai virando sempre à direita). Sim, é confuso e provavelmente vais-te perder, mas isso faz parte do passeio. Inspeciona os edifícios com azulejos verdes, azuis e vermelhos, acena aos velhotes com boinas, à freira que passa, às mulheres comsaris. Descansa num dos bancos das pequenas praças que vão aparecendo.
Visitar Lisboa: Bairro da Mouraria
No fim da Rua de São Lourenço chegas ao Largo dos Trigueiros. Há uma fonte no meio e grinaldas coloridas. A árvore poderá estar decorada de alguma maneira. Poderás encontrar senhoras idosas a fazertricot e a conversar, sentadas no banco, ou homens negros a ouvir musica Cabo-verdiana, ou jovens a fumar uma ganza, ou então ter o largo só para ti. As fotografias nas paredes das redondezas fazem parte de um projeto da Camilla Watson. Representam a vida e as pessoas do bairro. Queres saber mais? O estúdio é já aqui.
Continua em frente. Vais passar por mais ruas estreitas, prédios antigos e chegar ao Largo de São Cristóvão, com a Igreja homónima. Se te apetecer, desvia-te para as ruas secundárias para sentir a vida do bairro. Cumprimenta as senhoras que estão à janela e espreita as drogarias antigas que ainda se encontram por aqui.
Subindo pela Calçada do Marquês de Tancos já estás na encosta do castelo. Provavelmente já o tinhas percebido, por causa da inclinação da rua. Descansa um pouco na esplanada do Chapitô, a beber uma imperial. Este conjunto de edifícios brancos, vermelhos e amarelos rodeia um pátio lindíssimo com mesas e cadeiras diferentes, um pequeno jardim de ervas aromáticas, uma tenda e uma das melhores vistas sobre Lisboa e o rio Tejo. Tudo isto pertence a um projeto que inclui, no mesmo espaço, uma escola de circo e artes performativas, uma casa para jovens desfavorecidos que frequentem a escola, palcos para ensaios e espetáculos, um restaurante e um bar.
Rua de Alfama, Lisboa
Continuando pela mesma rua, um pouco mais acima está um painel de azulejos brancos e azuis a representar Santo António, um dos santos padroeiros de Lisboa. Eu acho-o piroso, mas muita gente parece apreciá-lo. Para a esquerda, no cimo da colina, está a entrada para o Castelo de São Jorge, mas vais seguir em frente. Ouve-se Fado no ar.
Quando chegares ao miradouro de Santa Luzia vais ter de decidir se te queres manter por aqui e ir explorar Alfama, que está aos teus pés, ou se já tiveste a tua dose de bairros históricos. Não consegues decidir? Ok, faz as duas coisas: apanha o elétrico 28, na direção do Martim Moniz, e irás atravessar Alfama rapidamente, a caminho do próximo destino. Aproveita a viagem.

Fim de Tarde

Apanha o elétrico 15, na Praça da Figueira. Vai atravessar a baixa e dirigir-se para fora do centro, na direção de Alcântara. Pede ao condutor para te indicar a paragem mais próxima da LX Factory, um complexo industrial antigo que esteve abandonado durante décadas. Reabriu em 2007 e estabeleceu-se como uma “ilha criativa” de Lisboa.
No Lx Factory, em edifícios onde as paredes estão decoradas com arte urbana, podem encontrar-se lojas, escritórios de arquitetura e design, espaços de coworking, produtores de artes visuais, galerias, cafés, restaurantes, bares e estão espaços novos a abrir constantemente.
Come uma fatia de bolo de chocolate na Landeau e perde a noção do tempo na Ler Devagar, uma livraria incrível revestida de livros do chão ao teto, com a altura de dois andares. São mais de 150.000 livros, novos e usados, num espaço que vale a pena visitar só por si.

Noite

Como vês, não faltam coisas para fazer em Lisboa. Para a noite, sugiro-te duas opções:
  1. Fica pelo Lx Factory. Janta num dos restaurantes e vê se há alguma festa num dos armazéns.
  2. Volta de elétrico para o Cais do Sodré. Podes jantar no acolhedor Café Tati, onde a ementa, de inspiração internacional, varia todos os dias. Às quartas-feiras têm concertos de Jazz (aos domingos à tarde também). Para petiscos portugueses e Fado, com decoração minimalista, opta pel’ O Povo.
Pensão Amor
A Rua Nova do Carvalho, mais conhecida por “Rua Rosa” (quando lá chegares percebes porquê), é tudo o que precisas para o resto da noite. Bebe um cocktail na Pensão Amor, mas sai antes de chegarem as multidões.
Dança ao som dos anos 70, 80 e 90 no Jamaica ou no Tokyo até por volta das 3. Daí segue para oMusicbox para uma boa dose de musica eletrónica (ou vai mais cedo se souberes de algum concerto em particular que queiras ver). Se ainda tiveres energia, no Europa e no Copenhaga os after-hours começam às 6.
Madrugada/Manhã do dia seguinte
Não podes ir para casa sem ensopar o álcool que consumiste. Passa na Casa Cid e come uma bifana, uns rissóis, umas moelas ou mesmo um cozido à Portuguesa.
Sim, o restaurante tem um aspeto manhoso e é possível que tenhas gente com ar estranho a vir-te pedir comida (tem cuidado com a carteira), mas é um clássico. Abriu em 1913, quando servia os marinheiros e prostitutas que deambulavam por estas ruas e é o único lugar onde podes comer destas coisas até às dez da manhã.
Vai dormir.

quarta-feira, 20 de abril de 2016

24 horas em Londres

Big Ben e Palácio de Westminster, Londres

Sendo a capital britânica uma cidade enorme e diversificada, este roteiro de um dia em Londres não pretende, evidentemente, ser um top de atrações turísticas nem responder à eterna questão sobre “o que fazer em Londres”. É, ao invés, uma visão pessoal sobre o que poderá ser um dia bem passado na cidade, especialmente para quem pretende visitar Londres pela primeira vez ou deixar-se guiar na descoberta da cidade. É também, naturalmente, uma viagem feita de escolhas, porque 24 horas é pouco tempo para conhecer Londres.

Visitar Londres: as primeiras 24 horas

Manhã

Comece o dia devagar com o melhor café da cidade. Situado na trendy região de Shoreditch, o Ozone Coffe Roasters (11 LeonardStreet) é um hino aos sentidos. Do expresso ao cappuccino, passando pelo latte ou pelo especial Syphon for 2. Aqui tudo é torrado na hora. Ao fim de semana, o brunch da casa é irresistível.
Saia do Ozone e vire à esquerda. Caminhe até ao cruzamento com a Great Eastern St e volte à direita. Continue durante cinco minutos, onde encontrará do seu lado direito o Mercado de Old Spitafields. Abra os cordões à bolsa nesta gigantesca feira de artesanato e produtos em segunda mão. Não se vai arrepender!
Siga viagem rumo a oeste, onde chocará com a estação de metro de Liverpool St. Desça as escadas rolantes, entre numa das carruagens e deixe-se contagiar pelo rebuliço do mais antigo sistema de metro do mundo. Saia na estação de Holland Park.
Borough Market, Londres
Chegado ao Holland Park, contemple as cascatas e o jardim japonês que fazem deste parque um dos mais belos e carismáticos da cidade de Londres. É fã de jogos de tabuleiro? Desafie um dos vários jogadores de xadrez do parque. Se o clima londrino estiver convidativo, aproveite este momento para um breve piquenique (atenção aos esquilos!); caso a chuva teime em não parar, opte por deambular de loja em loja no bairro de Notting Hill.
Deixe-se encantar com as preciosidades da Alice’s, a loja de antiguidades mais emblemática de Portobello Road, ou com as coloridas vivendas do bairro, dignas de um filme de desenho animado.
Dirija-se então para a estação de metro Notting Hill Gate, desça até à plataforma e aproveite a viagem para relaxar as pernas. Próximo destino: London Bridge.

Almoço

Na estação de London Bridge, siga as indicações para o Borough Market. Prepare-se para uma explosão de cores, aromas e sabores.
O mais famoso mercado de comida de rua da capital celebra mil anos de existência. Isso mesmo: um milénio a encher dispensas e bocas de milhões de londrinos. Do peixe fresco do sul da ilha, às paellasespanholas ou às raquelletes suíças, no Borough Market há iguarias vindas dos quatro cantos do mundo. O melhor mesmo é provar vários pratos em pequenas quantidades. Acredite…é de comer e chorar por mais.
Barriga cheia? Altura ideal para queimar calorias. Contemple o rio Tamisa enquanto atravessa a London Bridge. Na margem Norte vire à esquerda e continue a marchar – cerca de 15 minutos – até à moderna Millennium Bridge. Volte a cruzar o rio, desta vez demore-se a observar a Catedral de São Paulo e a Tate Modern. Suba gratuitamente ao sexto piso do museu de arte contemporânea mais emblemático de Londres, onde encontrará a cafetaria e uma paisagem desafogada sobre a capital inglesa.
Central London vista da Catedral de São Paulo
Volte ao piso térreo e saia pela Hopton St. Siga em direção a Sul até ao cruzamento com a Southwark St, vire à direita e, na Blackfriars Rd, volte à esquerda. Continue a andar durante cerca de três minutos até encontrar do seu lado direito a Meymott St. Siga por esta ruela até à requintada Roupell St.
Perca-se neste pequeno bairro de casas em tijoleira e portas coloridas, do século XIX, um dos mais pitorescos de Londres. Não deixe de parar na última morada da Roupell St onde a pastelaria de fabrico próprio Konditor & Cook o aguarda. Se estiver a ressacar por um expresso, não desespere: uns metros à frente, na Exton St, encontrará café Delta no pequeno Caprini Sandwich.

Tarde

Continue o seu passeio em direção ao rio. Deixe para trás o monumental BFI Cinema e dirija-se à parte de baixo da ponte de Waterloo, onde todos os dias dezenas de alfarrabistas exibem os seus livros na South Bank Book Fair. Entre livros antigos, mapas e gravuras de séculos passados, estes feirantes irão surpreendê-lo com as suas magnificas coleções.
Alguns metros à frente – em direção a Oeste – situa-se o Southbank Skatepark, um dos mais concorridos da cidade. Aproveite para descansar, enquanto observa os jovens londrinos a manobrarem os seus skatese patins. Não se irá desiludir.
Daqui até ao gigantesco London Eye são apenas alguns metros. Evite as longas filas de turistas e desfrute tranquilamente da majestosa vista sob o Tamisa e o Big Ben a partir do The Queen’s Walk.
Certamente já reparou nas centenas de postos de aluguer de bicicletas. Bike friendly, Londres é a cidade perfeita para pedalar. Alugue uma junto à ponte de Westminster e siga junto ao rio até encontrar um dos segredos mais bem guardados da capital: o Tamesis Dock.
Neal's Yard, em Covent Garden
Ancorado junto à margem, o Tamesis Dock é muito mais que um velho navio. É um pub, restaurante, sala de espetáculos e ponto de encontro de dezenas de londrinos. Ao final da tarde, este pequeno barco enche-se de transeuntes que aproveitam os últimos raios de sol para beber uma pint. Bandas como os Local Natives, Bastille ouThe Beautiful Girls já pisaram o palco do Tamesis Dock.
Depois de aquecer a garganta, é hora de prosseguir caminho. Aproveite o cair da noite para pedalar de novo até Westminster. Estacione a sua amiga de duas rodas e contemple os agora iluminados Palácio de Westminster e torre do Big Ben, um espetáculo sublime de cor e luz.
Atravesse a ponte e dirija-se ao metro de Westminster. Aperte-se para entrar numa das carruagens e saia em Convent Garden.
Ao abandonar a estação, vire à esquerda em direção à Neals St. Famoso pelas suas lojas e restaurantes sempre na moda, o bairro de Convent Garden é o lugar ideal para as últimas compras. Não deixe de visitar a Urban Outfitters, a Office Shoes ou a American Apparel. Também aqui irá encontrar a reputada Fly, uma marca de sapatos portugueses de sucesso.
Não deixe Convent Garden sem espreitar o Neal’s Yard, um pequeno pátio que parece retirado de um livro de banda desenhada e esconde várias pastelarias, mercearias e restaurantes. O refugio perfeito para se resguardar do rebuliço da cidade.

Noite

Regresse ao Tube de Convent Garden e encarrile até à estação de Shoreditch High St. Aqui chegado, siga até à multicultural Kingsland Road. São vários os restaurantes asiáticos à escolha nesta zona. Os vietnamitas VietGrill e Que Viet ou o tailandês Mien Tay estão entre os mais afamados. As bebidas alcoólicas não figuram no menu, mas podem entrar sem custos extra.
Vista noturna da Tower Bridge, Londres
Se preferir uma refeição mais britânica, vá ao The Breakfast Club (12-16 ArtilleryLane). A cinco minutos da estação de Shoreditch High St, este restaurante tranquilo esconde um segredo. Quando terminar a sua refeição interrogue o empregado sobre piso inferior. Prepare-se para ser surpreendido! Um porteiro irá conduzi-lo pelos bastidores até um frigorifico. Ao ser aberto, este mega-congelador revela umas escadas que escondem um PUB secreto. Surpreendido?
Deixe o secretismo do The Breakfast Club e desloque-se novamente à Leonard Street, desta vez ao número 100. O The Book Club – um antigo edifício Victoriano – é hoje um dos bares mais trendy de East London. Da comida aos concertos, passando pelos DJ’s e eventos artísticos, o The Book é o espaço para quem gosta de navegar na crista da onda.
Poucos minutos a pé situa-se outro fenómeno da noite londrina: o Queen Of Hoxton (Curtain Road 1-5). Além da pista de dança underground, este espaço noturno esconde um dos melhores terraços da cidade. Imperdível no verão!
Não regresse a casa sem aconchegar o estômago. A poucos quarteirões do Queen Of Hoxton fica a rua mais multicultural da capital inglesa: Brick Lane. No número 155 encontra-se a loja de beigels mais famosa do bairro. Conhecida por nunca fechar, a Beigel Shop é a melhor amiga dos noctívagos de East London. Dobeigel simples ao mais elaborado com salmão e queijo, aqui tudo sabe a pouco.
Beigels
Agora que está de barriga e a mente cheia… vá dormir!

segunda-feira, 18 de abril de 2016

24 horas em Dubai

Bairro Bastakiya, Dubai

Este roteiro de um dia no Dubai não pretende, evidentemente, ser um top de atrações turísticas nem responder à eterna questão sobre “o que fazer no Dubai”. É, ao invés, uma visão pessoal sobre o que poderá ser um dia bem passado na cidade, especialmente para quem pretende visitar o Dubai pela primeira vez ou deixar-se guiar na descoberta da cidade. É também, naturalmente, uma viagem feita de escolhas, porque 24 horas é pouco tempo para conhecer o Dubai.

Manhã

Começa o dia com um mergulho. Na Kite Beach podes refrescar-te, fazer jogging, jogar ténis ou volley, fazer kite surf e outros desportos aquáticos, ou simplesmente apanhar banhos de sol, com vista para o Burj Al-Arab. Apenas podes entrar no hotel se fores hóspede ou cliente de um dos restaurantes e o mais interessante é mesmo o exterior do edifício. Este é o lugar perfeito para o veres, e ainda trabalhas para o bronze.
Se estiveres muito numa de praia, mantém-te por aqui mais um tempo. Se quiseres ir espreitar um pouco da vida dos parques, apanha um táxi para o Safa Park.
Safa Park, Dubai
Passeia pelo parque. Repara no contraste do enorme espaço aberto, plano, relvado, com a silhueta dos edifícios ao fundo. O Burj Khalifa vê-se daqui e percebe-se bem o quanto se destaca dos outros, que já são enormes. Cruza os vários expatriados que aqui vêm fazer jogging e diz “Hello” às crianças a brincar, vigiadas pelas nannies Filipinas. Aos fins de semana, debaixo das árvores e junto às áreas de barbecue vais ver famílias inteiras de Árabes e Indianos a preparar verdadeiros banquetes.
De volta à entrada principal do parque, apanha o autocarro 15 (ou um táxi, consoante o teu orçamento). Sai na paragem Al Fahidie Metro Station 2. Conta com 45 minutos de viagem, se fores de autocarro. À saída do autocarro já estás na zona do Bur Dubai, uma das mais antigas do Emirado.
Daqui dirige-te para o bairro histórico de Bastakiya, na Rua Al Fahidie (fica para baixo e para a direita de onde estás). A sua origem recua até 1690, mas esteve ao abandono durante anos. Era, originalmente, um bairro de mercadores Persas. Com a descoberta de petróleo no Golfo a maior parte das famílias que aqui viviam mudou-se para zonas mais modernas da cidade e as casas tradicionais, com as suas torres de vento e pátios interiores foram sendo usadas apenas como armazéns, abandonadas ou destruídas para construir escritórios e edifícios modernos. A renovação de todo o quarteirão remanescente iniciou-se apenas em 2005.
Badgirs em Bastakiya, Dubai
Perde-te no meio dos edifícios terracota, sobe aos telhados para apreciar a estrutura das torres de vento e a vista da cidade à volta, tão diferente. Sente o silêncio de 300 anos de história nos becos. Que contraste com o circo de cimento e aço que está lá fora. Senta-te nas praças a ouvir a chamada para a oração.

Almoço

Se for um domingo ou uma terça-feira, junta-te aos almoços culturais do Sheikh Mohammed Centre for Cultural Understanding (atenção: é preciso marcar). Este é um dos poucos sítios no Dubai onde podes provar a verdadeira cozinha Emirati. A refeição é acompanhada por um anfitrião local, com o objetivo de partilhar informação sobre a cultura do país. Os grupos podem ser grandes, mas é uma ótima oportunidade para fazer perguntas. Não sejas tímido.
Nos outros dias tens os pátios do Arabian Tea House (antigo Basta Art Cafe), para saladas e refeições leves, ou do Local House, famoso pelos pratos de carne de camelo.

Tarde

Depois de visitares as galerias de arte de Bastakiya está na hora de entrar mais a fundo na história do Dubai. Volta à Al Fahidie Street e dirige-te ao Forte Al Fahidi. Este é o edifício mais antigo do emirado e onde está agora o Museu do Dubai. Os dioramas e algumas das exposições são um pouco foleiras, mas é uma boa fonte de informação para perceber o que foi este lugar, antes dos arranha-céus.
Daqui caminha para Norte, em direção ao rio até chegares à Grand Mosque. Como o nome indica, é a maior do emirado. Aprecia o minarete de 70 metros e as várias cúpulas, de fora. A entrada é proibida a não muçulmanos. Continua na mesma direção e vais chegar ao Templo Hindu. De fora parece mais uma casa, com lojas à volta, mas as filas de gente à porta, as grinaldas de flores à venda para as oferendas e os homens de lungi são sinais indicativos que chegaste. Esta proximidade dos dois edifícios e a população que os rodeia é um bom exemplo da diversidade cultural do Dubai, um dos aspetos mais interessantes do país.
Forte Al Fahidi, Dubai
Chegando ao rio (Creek), junta-te aos habitantes nas suas voltas diárias e apanha um abra, o barco-taxi, para o outro lado. Vais ter de esperar que o barco encha para sair, mas isso acontece rapidamente. Cumprimenta a senhora com o sari colorido à tua direita, e o velhote chinês à tua esquerda. Em dez minutos vais estar em Deira.
Passeia pelo porto. Deste lado, a segunda zona mais antiga do Dubai, atracam os barcos de carga que transportam todo o tipo de mercadorias pela Península Arábica. Chamam-se Dowhs e há-os de todos os tamanhos, de madeira e com pontes azuis. A carga varia das sacas de comida às televisões e carros. Provavelmente vais-te deparar com a roupa da tripulação pendurada no convés e até pode ser que te convidem para subir a bordo.
Embrenha-te no interior do quarteirão, onde são os souks. Tradicionalmente divididos em áreas de comércio, hoje em dia são uma misturada de lojas de tecidos, móveis, souvenirs e comida mas mais para o lado esquerdo ainda existe uma zona dedicada às especiarias, o Spice Souk. Com muita persistência e alguma inocência pode ser que consigas negociar açafrão verdadeiro por uma ninharia e ainda trazer tâmaras cobertas de chocolate como oferta.
Bairro árabe de Bastakiya, Dubai
Se estiveres muito interessado em comprar ouro, o Gold Souk fica na ponta oposta do Spice Souk, mais para o interior (Norte). A mim parece-me demasiado turístico, mas a relação qualidade/preço do metal aqui é das melhores do mundo portanto se estás à procura daquele presente especial este é o lugar.

Fim de tarde

Apanha um barco-taxi de novo, mas desta vez negoceia para tê-lo só para ti. Deverá custar-te à volta de 80 UAD por uma hora. Pede ao condutor que te leve a dar uma volta pelo Creek acima, para sudeste para apreciares ambas as margens com a luz perfeita do fim de dia.
Do lado esquerdo vão surgir os edifícios modernistas que inspiraram todas as construções megalómanas que continuam a aparecer e caracterizar o Dubai. A esta hora a folha de vidro polido que cobre o National Bank of Dubai (inspirada nas velas dos Dowhs) parece arder ao refletir o laranja do pôr-do-sol. Logo a seguir, outro cais, maior, com um contraste interessante entre os Dowhs e o horizonte recortado de arranha-céus.
Depois do sol se pôr tens duas hipóteses:
  • Se fores fazer o teu próprio jantar, pede ao condutor do barco para te deixar o mais próximo possível do Mercado do Peixe, em Deira (Deira Fish market). Aqui podes encontrar o peixe fresco mais barato de todo o Dubai, e ainda ter um cheirinho do que é o comércio local. Literalmente. Os teus pés e/ou sapatos vão transportar esse cheirinho com eles, mas vais-te esquecer disso tudo quando olhares para o tamanho dos camarões. Prepara-te para negociar a sério, ou não vais conseguir preços justos.
Mercado de Peixe, Dubai

Mesmo que não queiras cozinhar, e se gostares de mercados, vale a pena passar por aqui. A confusão de vozes a apregoar e negociar, os gestos das pessoas a escolher e pegar no peixe, os guinchos das gaivotas que vêm em bandos tentar apanhar os restos e o tal cheirinho que te vai acompanhar lembram o que deve ter sido esta zona na altura dos apanhadores de pérolas e pescadores que fundaram a cidade.
  • Volta ao teu hotel, descansa um pouco e muda de roupa. Para sair à noite tens de estar arranjado. Meninos, nada de calções e t-shirts velhas; meninas, saltos altos de preferência, ou uma roupita que compense a ausência deles. Para as opções propostas, o dress code é casual chic. Sim, é ridículo, mas o Dubai é mesmo assim.

Noite

Não vale a pena jantares antes das 9 da noite. Se não optaste por comer em casa, apanha um táxi para oIbn Hamido. Existe uma grande comunidade de Egípcios no Dubai, e este é o restaurante que eles recomendam para comer peixe e marisco à sua maneira. É uma sala enorme, com mesas e cadeiras de madeira escura. As paredes estão cobertas de fotos de artistas e atores antigos, há um aquário gigante no meio da sala e uma mesa de exposição de onde escolhes o peixe que queres e a maneira como queres que seja cozinhado. É tudo bastante foleiro, mas nem vais pensar nisso enquanto comes a sopa de marisco. Prova também os camarões tigre, e pede para te grelharem o peixe à maneira egípcia (é marinado e vem coberto com especiarias. Se não gostas de cominhos, então pede para ser só grelhado).
Skyline do Dubai à noite
Depois de jantar é hora de um pezinho de dança. A cultura dos clubes por aqui pode ser bem snob, mas estes dois têm um ambiente mais descontraído, e a música foge dos êxitos pseudo-eletrónicos comerciais da maioria dos sítios. Se for sexta-feira, as noites Electric Days no Tamanya Terrace do hotel Radisson Blu são famosas pelo ambiente descontraído e pela boa música eletrónica (dentro do House e Techno, dependendo do DJ). Lembra-te de enviar um email com o teu nome para doorlist@electricdays.net logo de manhã. A entrada são 100UAD. Podes considerar jantar mais cedo. A festa começa ao pôr-do-sol, portanto já vai estar bem animada.
Nos outros dias, vai até ao 360º. No fim do passeio da marina do Jumeirah Beach Hotel, este bar fica literalmente em cima do mar. É dos sítios mais descontraídos para sair à noite (mesmo assim, atenção) e aos fins de semana tem uma boa programação de House para dançar. Durante a semana bebe um copo, fuma uma shisha e aprecia a vista.
A noite, por comparação com Portugal, acaba cedo. Os clubes fecham por volta das 3. Mas depois disso é altura de reunir com o resto da malta da noite no Zaroob e ensopar um pouco o álcool com comida de rua Libanesa. Este restaurante pega nesse conceito, mas leva-o para dentro de portas, num espaço colorido e relaxado, com tetos altos e cozinhas abertas. Na estação fresca, fica no pátio, nas mesas com bancos corridos. Empanturra-te com Man’oushes, ovos na frigideira, hummusfalafel e foul.
Restaurante Zaroob Dubai
Vai dormir de barriga cheia.

sábado, 16 de abril de 2016

24 horas na Cidade do Panamá

Cinta Costera da Cidade do Panamá

Manhã

Se da rua ouves um energético chilrear e a luz do sol insiste entrar pela janela do teu quarto é porque é hora de acordar. Na Cidade do Panamá o dia começa cedo. Toma um pequeno-almoço reforçado com bastantes líquidos (o teu corpo agradece) e prepara-te para um dia nesta agitada cidade da América central.
Começa por uma caminhada pela cinta costera (tendo o mar do teu lado esquerdo), que acompanha aAvenida Balboa com vista para o Pacífico. O verde que acompanha este passeio atrai muita gente nos seus percursos diários (e aumenta ao fim-de-semana), seja para uma corrida, passear com as crianças ou um ou outro viajante a contemplar a paisagem que o rodeia – como tu. Aproveita para observares além da paisagem envolvente as pessoas que passam por ti, e abraça a multiculturalidade e o ritmo latino deste país plantado entre o Atlântico e o Pacífico, este istmo que liga as Américas do Norte e do Sul.
Mercado de marisco, Cidade do Panamá
Caminha até o Mercado do Marisco, que passas, e entra no bairro típico e mais cool da cidade chamadoCasco Viejo. Neste momento olha para trás onde ainda consegues ver a linha no horizonte coberta de arranha-céus. Deixas a modernidade e entras agora em ruas recheadas de história e edifícios coloniais.
Casco Viejo, por vezes também chamado de “Casco Antiguo” ou mesmo “San Felipe” é o distrito histórico desta capital, construído no século XVII quando a antiga cidade do Panamá (agora chamada de “Panama Viejo“) foi atacada e destruída por piratas.
Esta zona histórica da cidade está cheia de vibrantes cafés e esplanadas, algumas com vista para o mar. Há ainda grande variedade de lojas que vendem os originais panamás (e algumas também outrossouvenirs a pensar nos turistas), produto 100% panameño. Se não tens chapéu aproveita para encontrares aqui um à tua medida e de acordo com o teu budget, já que o dia provavelmente vai ser quente (dica útil: lembra-te como é que eles fazem para dobrar o chapéu sem o danificar nem amarrotar, vai dar muito jeito se continuares viagem com ele).
Casco Viejo Cidade do Panamá
Corre as ruas do Casco Viejo e as suas praças. Admira as fachadas nos diferentes estilos que incluem o francês, espanhol colonial, arte deco e até o caribenho, e ainda as igrejas históricas. Entra nas mercearias, pára para espreitares um café ou outro.
Vais ver partes deste bairro que ainda não estão reconstruídas e ver alguma pobreza, que contrasta com a imponência de alguns edifícios com cara lavada (desde 1997 este bairro é considerado património mundial pela UNESCO e os resultados são visíveis).
Passa pela Plaza de la Independencia  também conhecida como Plaza Catedral onde em 1903 se declarou a independência do Panamá da Colômbia (e anteriormente de Espanha). Olha à tua volta e imagina esta praça cheia de pessoas a festejarem a independência do seu país no século passado. Ainda nesta praça podes ver a Catedral, o Palácio Municipal, o Museu do Canal e ainda o outrora ícone Hotel Central.
Daqui, segue pela Avenida A em direcção ao Paseo Esteban Huertas, segue Las Bóvedas e aprecia a vista até à Plaza Francia (o monumento na praça foi construído em memória dos 22.000 franceses que morreram na construção do Canal do Panamá). No passeio junto ao mar vais conseguir ver um edifício colorido ao longe, obra do aclamado arquitecto Frank Gehry. Trata-se do Biomuseo, o Museu da Biodiversidade que está localizado na Calzada de Amador (outro passeio interessante caso fiques mais dias pela cidade).

Almoço

A esta hora o teu estômago já deve estar a dar horas. Segue para o início do Casco Viejo, por onde começaste este passeio histórico até veres o Mercado do Marisco novamente, ao lado da Avenida Balboa. Entra e dá uma volta pelas bancadas preenchidas por uma grande variedade de peixes e mariscos. Aqui respira-se mar. Podes comprar ceviche fresco e ao melhor preço da cidade, por apenas cerca de 2,5 dólares ou balboas. Caso nunca tenhas provado, o ceviche é peixe ou marisco marinado em sumo de limão ou lima, alho e outros temperos e é uma das iguarias do Panamá.
Ceviche
Se te apetecer uma das iguarias aqui exibidas (aquelas lagostas estavam mesmo a sorrir para ti), estás com sorte: poderás escolher o teu marisco e levá-lo para o restaurante no andar de cima onde o poderão cozinhar e servir por cerca de 8 dólares. Alternativamente, escolhe um dos pratos no menú do restaurante. Ou vários. E acompanha com uma Balboa ou Panama fresquinha, duas cervejas nacionais.
Se peixe ou marisco não é a tua onda (ou se te aconteceu chegares ao mercado na primeira segunda-feira do mês quando fecham para limpeza), há uma alternativa bem perto que é bem menos turística e consideravelmente mais barata. Saindo pela entrada principal do Mercado do Marisco atravessa a estrada para o outro lado e segue a Avenida Balboa até esta se cruzar com a Calle 15 Este (ou pela Av. Eloy Alfaro até de cruzar com a Calle 15 Este) – irás ver um edifício chamado “Mercado Público San Felipe Neri” (na dúvida, pergunta sempre).
Numa das salas encontrarás várias mesas e à sua volta várias áreas com vendedores de refeições onde poderás escolher entre várias comidas típicas, normalmente a acompanhar com arroz e feijão. Opta entre comer aqui ou takeaway. Podes visitar ainda outras áreas de mercado mais tradicionais, onde vendem de tudo um pouco. E fica o aviso de que é preciso estômago para entrar na parte das carnes (o calor não ajuda).

Tarde

Prepara-te para o espectáculo mais famoso do Panamá: o Canal do Panamá. Depois de um almoço de marisco, nada como uma caminhada até à estação de metro mais próxima: 5 de Mayo. Do mercado do marisco atravessa a estrada, segue a Cinta Costera (para o lado oposto de que vieste de manhã) e caminha até veres a estação 5 de Mayo.
Vai observando as ruas. Vais passar por um barbeiro “de rua” onde os homens locais estão a ser atendidos e poderás ver o processo todo. Como alguns têm cara quem não gosta de ser observado durante o corte de cabelo, evita tirar aquela foto que te apetece mesmo muito agora.
Se ainda não tens um cartão do metro e metrobus agora é hora de comprá-lo. Se viajas com alguém não precisas comprar vários cartões – compra apenas um e carrega-o com uma quantia suficiente para passar uma vez por viagem por cada passageiro. Daqui de 5 de Mayo apanha o metro para Albrook. Repara no letreiro à entrada das escadas rolantes – se estiveres a usar crocs, por favor, usa as escadas tradicionais.
Canal do Panamá
Em Albrook caminha até à estação de autocarros. Entrar na estação de Albrook é uma experiência por si só: vale a pena gastar algum tempo a observar a variedade de pintura dos autocarros típicos (que também vamos vendo a passar na cidade), chamados carinhosamente de “diablos rojos“. Estes autocarros são pintados de forma colorida, cada um à sua maneira e normalmente retratando actores famosos, políticos, cantores ou algo do foro religioso. A decoração – interior e exterior – de cada diablo rojo é feita pelo seu condutor (repara que à noite se conseguem ver bem os neons a piscar que muitos deles ostentam). Podes sorrir de satisfação que é agora que vais andar num destes!
Segue até ao terminal onde se apanham os autocarros para Miraflores. Quando entrares, confirma com o motorista que o autocarro pára em Miraflores (no Canal) e pede que te avise quando for a tua paragem. Como nunca é demais, pede à pessoa mais perto de ti no autocarro que te indique quando estiverem a chegar ao teu destino. Memoriza o trajecto para o fazeres no regresso.
A entrada no centro de visitantes do Canal do Panamá custa 15$, os quais inicialmente te podem custar a abrir mão, mas se tiveres a oportunidade de observar algum barco a entrar ou sair do canal (é quase certo que sim) vais perceber que é realmente algo extraordinário para se assistir. Repara no nível de água a subir e a descer e a complexidade (e genialidade) de todo o processo. Entretanto terás tempo para uma ou outraselfie com o canal por trás. É realmente uma grande obra de engenharia sobre a qual vais poder aprender, bem como a sua história caso decidas ir ver o museu e até mesmo o filme (a que também tens direito quando compras o bilhete de entrada).

Noite

Regressa a Casco Viejo, seja novamente num exuberante diablo rojo ou alternativamente de taxi (negoceia sempre o preço antes – apesar de terem tarifas fixas porque não usam o taxímetro, às vezes tentam subir os preços para os turistas; isto serve para todas as viagens de taxi dentro e fora da Cidade do Panamá). Já no vivaço bairro antigo, dirige-te à Calle 8 da Avenida B, entra no Hotel Tántalo e sobe ao rooftop.
Senta-te e desfruta aquela bebida fresca que te estava mesmo a apetecer (vai um mojito de maracujá?), com uma das melhores vistas da Cidade do Panamá. Relaxa até o sol se pôr e paisagem urbana mudar para o seu modo noturno, e admira o skyline da cidade no horizonte.
Restaurante Tantalo
Para jantar desce ao primeiro piso onde tens o Tántalo Kitchen, um restaurante com uma decoração muito divertida e com um menu criativo que reflecte a variedade e o mix de influências com que se caracteriza a cozinha Panamenha.
Depois, a noite é tua (e ainda uma criança)! Desce ao outro bar do hotel ou sobe novamente ao rooftoppara mais um cocktail. Porque não experimentar o de algodão doce?
Se és mais fã de cerveja, é uma boa altura para experimentares a melhor cerveja artesanal da cidade. Sai do hotel, vira à esquerda e segue pela Av. Eloy Alfaro e procura La Rana Dorada. Entra e escolhe uma das 4 cervejas da casa, ou se estás na dúvida pede uma degostação antes de elegeres a tua favorita.
porto-de-pesca-cidade-panama
Não podes terminar a tua visita à capital do Panamá sem um pézinho de dança. Se ainda é cedo procura o Gatto Blanco, um rooftop na mesma rua que o Tántalo Rooftop onde estiveste antes, para música ao vivo e, quem sabe, mais um cocktail. Mas para dançar a sério tens de ir ao Habana Panama (na rua Eloy Alfaro com a rua 12, aqui perto), um bar/discoteca giríssimo de música cubana decorado ao estilo dos anos 50 e um ícone na cidade do Panamá. É paragem obrigatório para os amantes da música latina e de salsa, com música ao vivo e bailarinos de fazer inveja. Prepara-te para muito ritmo, dança, suor e esperemos que uma noite inesquecível.