domingo, 24 de abril de 2016

24 horas em Madrid

Plaza de Cibeles, Madrid
Madrid é uma grande cidade europeia e, por isso, nenhum roteiro de um dia poderá ser um top de atrações turísticas nem tampouco responder à eterna questão sobre “o que fazer em Madrid”. É, ao invés, uma visão pessoal sobre um dia bem passado na capital de Espanha, especialmente para quem pretende visitar Madrid pela primeira vez ou deixar-se guiar na descoberta da cidade, que poderá incluir numa estadia mais prolongada em Madrid.

Madrid em 24 horas

Manhã

Começa o dia com um pequeno-almoço bem castizo: churros e porras com chocolate quente, ou café com leite para quem precisa de cafeína de manhã. A Chocolateria San Ginés, aberta há 120 anos, serve-os 24 horas por dia.
Segue pela Calle Mayor, para Este (esquerda), passando pela Puerta del Sol. Cumprimenta de longe a estátua do urso, ponto de encontro de meia Madrid e provavelmente a mais fotografada de toda a cidade. Vira para a esquerda, seguindo sempre pela Calle de Alcalá até chegares à Plaza Cibeles.
Lugar mítico de multidões, esta é a praça onde os madrilenos se dirigem quando querem celebrar algo, quando se manifestam contra o governo e quando o Real Madrid ou a seleção espanhola ganham campeonatos de futebol. Aparte essa mística, é uma praça com vários edifícios de relevo. A fonte que constitui o meio da praça, com a Deusa da Fertilidade numa carruagem puxada por leões; o Palácio de Cibeles, sede do Ayuntamento de Madrid e centro cultural (se vieres com mais tempo, é um ótimo lugar para passar algumas horas); o Banco de Espanha e o Palácio de Linares. Se olhares na direção por onde continua a Calle de Alcalá, poderás avistar a Puerta de Alcalá, uma das cinco antigas portas reais, que davam acesso à cidade.
Segue para Norte, subindo o Paseo de Recoletos. Esta é a alameda mais antiga de Madrid. Zona de palacetes e jardim público desde o século XIX, foi renovado em 2002 de modo a incluir mais áreas verdes e pedonais. O projeto desta renovação foi ganho pelo arquiteto Português Álvaro Siza.
Biblioteca Nacional, Madrid
Entra na Biblioteca Nacional de Espanha. Se te interessarem, aprecia as exposições temporárias. Se não, absorve apenas a beleza de ter mais de cinco milhões de livros num edifício do século XIX. Para além do acervo trazido de França por Felipe V e de outras doações feitas ao longo dos séculos, desde 1715 (quando a biblioteca ainda era noutro edifício) que recebe um exemplar de todos os livros publicados em Espanha. Repara nos nomes dos grandes escritores espanhóis, gravados nas paredes do Salão de Leitura, e das províncias, no teto.
Ao lado da biblioteca estão os Jardines del Descubrimiento. Vai espreitar o monumento em cimento avermelhado, em cima de um espelho de água que realça a sua forma de barco. Tem gravadas profecias relativas à Descoberta da América e relevos de figuras de navegadores, reis, índios e todos os que participaram e foram atingidos de alguma forma por esse empreendimento.
Olha para o lado oposto do jardim, passando a Plaza Colón. Vais avistar as Torres de Colón, um dos primeiros edifícios modernistas da cidade, apelidado pelos madrilenos de el enchufe (a tomada) devido à sua forma. Em 2008 foi eleito pela virtual tourist como o sexto edifício mais feio do mundo.
Volta ao Paseo de Recoletos e apanha o autocarro 14, no sentido de volta à Plaza Cibeles. Agora tens duas opções para passar o resto do dia.
a) Museu do Prado
Se tens um grande interesse por Arte e museus, não podes deixar de visitar o Museu do Prado. Junta-lhe os jardins do museu e vais estar ocupado até à hora de jantar. Sai do autocarro na paragem Plaza Prado/Plaza Murillo. Provavelmente vais ter de esperar bastante tempo na fila para entrar. 
b) Parque do Retiro e vida de Bairro em La Latina
Sai do autocarro na ronda de Atocha. Ao lado da Plaza Emperador Carlos V está um dos bares mais autênticos de Madrid. O El Brillante é despretensioso e famoso pelas bocatas. Pede uma de calamares com maionese para levar e volta para Atocha, para entrares no Parque del Buen Retiro.

Almoço

Palácio de Cristal, parque de Retiro, Madrid
Escolhe o lugar que mais te agrade para te estenderes na relva a comer a bocata. Dorme uma sesta debaixo de uma árvore ao pé da lagoa, ou do palácio de Cristal. Está descansado que a sandes é mais que suficiente, já aí vem comida a meio da tarde. Estás na cidade das tapas!

Tarde

Sai do parque pela Plaza Parterre. Vai sempre em frente, pelas Calles Felipe IV e Cervantes. Na Calle Leon vira à esquerda e depois à direita para a calle Magdalena. Continua pela Calle Collegiata até chegares à Plaza de la Puerta Cerrada. Chegáste ao bairro La Latina, que foi o primeiro espaço urbano de Madrid, na Idade Média. A arquitetura e distribuição do bairro refletem esta origem com ruas estreitas e inclinadas e prédios baixos com azulejos.
O melhor desta zona é mesmo perderes-te pelas ruas e praças, sentar nas esplanadas a beber uma caña e sentir o ritmo do bairro. Com a Plaza de la Puerta Cerrada pelas costas é calcorrear as Calles Cava Alta, Cava Baja, Nuncio ou del Almendro, passando de umas para outras pelas ruelas que as unem.
Se a fome já apertar, a rosca depringa (carnes do cozido trituradas) na Taberna Almendro 13 é uma ótima (e gigante) opção para acompanhar a cerveja.
Plaza de la Paja, Madrid
Procura desembocar na Plaza de la Paja, onde se dispõem várias esplanadas, prédios coloridos e a Capilla del Obispo ao fundo, ou na Plaza de San Andrés, com a igreja com mesmo nome e a vida de tabernas e esplanadas que se sente em todo o bairro. Aqui está também o Museu San Isidro, se quiseres ficar a conhecer mais sobre a história de Madrid.
Volta a subir na direção da Plaza de la Puerta Cerrada, pela Calle Toledo. Segue sempre nesta rua até chegares à Plaza Mayor. Aprecia o que é um dos pontos turísticos mais conhecidos da cidade, mas não te demores. Tanto turismo já descaracterizou o que foi o principal local de comércio durante séculos.
Sai pelo pórtico que dá para a Calle Siete de Julio. Segue pela Calle de las Fuentes, Costanilla de los Angeles e Calle San Bernardo, sempre a subir.
Quando atravessares a Gran Via vais entrar no Bairro de Malasaña. Conhecido por ter sido o berço daMovida Madrileña dos anos 80, foi um bairro degradado e entregue à prostituição e tráfico de drogas durante muito tempo. Nos últimos anos, como tem acontecido por essa Europa fora, o afluxo de artistas e gente criativa, e o investimento de privados fez com que se tornasse no bairro mais trendy de Madrid. A gentrificação é um problema real, mas ainda assim continua a sentir-se aqui um ambiente que é ao mesmo tempo moderno e tradicional. Uma pequena aldeia dentro da cidade.
Gran Via, Madrid
Se te interessa a arte urbana tens muitos murais para descobrir e até as grades que cobrem as portas dos bares e lojas fechados podem ter verdadeiras obras-primas pintadas. A galeria (Es)positivo apresenta obras de artistas espanhóis e internacionais e funciona também como centro cultural.
Vai subindo para Norte, em direção à Plaza del 2 de Mayo, sem pressas. Esta praça é um dos centros nevrálgicos do bairro, sempre cheia de gente a passear, na conversa, ou a beber, de dia ou de noite. Construída em 1869, presta homenagem ao levantamento popular dos madrilenos em 1808, que inspirou a vaga nacional de protestos que levou à Guerra da Independência Espanhola. A estátua em frente ao arco que se encontra no centro da praça é de 1831 e representa Daoz e Velaverde, heróis deste levantamento.
Vais chegar aqui quando chegares. Sente a vida do bairro, para para beber um copo, tapear e beber mais um copo a seguir. Repara nas lojas de roupa vintage, cafés e restaurantes modernos, cafés tradicionais, lojas de discos e livrarias antigas. Abundam as galerias de arte e os bares. Vais seguramente cruzar-te com muitas bicicletas e homens de barba com óculos de massa, mas também pessoas mais velhas e famílias que aqui vivem há várias gerações.
Horto urbano no Patio Maravillas, Madrid
Não deixes de passar pelo Patio Maravillas, se o centro ainda se mantiver no edifício que ocupou na Calle Pez há seis anos (estão com ordem de despejo da câmara há meses, mas têm-se mantido por lá com o apoio dos vizinhos e de toda a gente que usa o centro e acredita nos seus valores). Este é um Espaço Polivalente Autogerido. Um centro social constituído por vários coletivos de gente que oferece atividades de forma gratuita e segundo a economia da dádiva e da troca; promove atividades culturais e de discussão social e política; tem uma horta urbana e um mercado agro-ecológico promovido pelos habitantes do bairro.

Fim de Tarde / Noite

Começa a noite com aperitivos. Podes tomar um bom vermut na Bodega Rivas ou, se te apetecer um ambiente mais chic vai ao 1862 Dry Bar.
Ao jantar podes ir saltando de lugar em lugar, ou então escolhe um destes para ir ficando. No Bodegas de La Ardosa não te esqueças de molhar o pão no salmorejo nem deixes de provar o pincho de tortilha espanhola. Há madrilenos que se questionam se a salada russa deles é ou não melhor que a da mãe.
A Casa Julio é famosa pelas croquetas (e por ter sido palco de um vídeo dos U2). O El Palentino é um clássico de Madrid, aberto das 8 da manhã à 2 da madrugada. É a verdadeira tasca de bairro a cheirar a fumo e fritos, com balcões de alumínio, lâmpadas fluorescentes e espelhos por todo lado. Podes passar por cá para comer umas tapas ou bocatas simples e baratas, ou beber um copo depois do jantar com os velhotes do bairro sentados ao balcão (mais a enchente de tantos como tu que por cá passam, se vieres tarde).
Gastronomia espanhola
Daqui podes seguir para vários clássicos da noite madrilena, situados neste mesmo bairro. O Tupperware anima a noite desde os tempos da Movida. A decoração colorida e excessivamente pop pós-moderna (pensa: cores psicadélicas, barbies, televisões sem ecrã cheias de bonecos de plástico…) resulta surpreendentemente bem. No andar de cima podes estar mais tranquilo, sentado a beber um copo e conversar. No piso inferior dançar ao ritmo de rock e indie, dos anos 80 até aos dias de hoje.
O La Via Láctea, também ativo desde o final dos anos 70, é muitas vezes apelidado de “bar mais lendário de Madrid”. Está forrado a posters de espetáculos antigos e grandes do rock, tem dois andares, uma mesa de snooker, e muitos recantos. A música anda à volta do rock e punk. Há quem lhe chame o CBGB Espanhol.
Qualquer um destes bares/discotecas, como quase todos nesta zona, fecham às 3 da manhã. Se te apetecer dançar até mais tarde, vais ter de ir até um dos clubs maiores espalhados pela cidade. Tens muitas opções. Estas três são das mais conhecidas de Madrid: o Pacha está aqui mesmo no bairro; para o Kapital, com sete andares, e o Joy Eslava, o mais prático é apanhares um táxi. Nestes sítios é cobrada entrada e têm todos um ambiente menos descontraído e um pouco mais snob. Os rapazes terão de estar de camisa e sapatos e as raparigas na onda do salto alto e maquilhagem caprichada.

Fim de noite

Junta-te aos taxistas em mudança de turno, motoqueiros madrugadores, betinhos de fato e restante gente da noite para um pequeno-almoço/ceia que tanto pode ser de churros e leite com chocolate, como patatas bravas e croquetas ou sandes de orelha, no Iberia, em Malaseña.
Vai dormir.

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