segunda-feira, 18 de abril de 2016

24 horas em Dubai

Bairro Bastakiya, Dubai

Este roteiro de um dia no Dubai não pretende, evidentemente, ser um top de atrações turísticas nem responder à eterna questão sobre “o que fazer no Dubai”. É, ao invés, uma visão pessoal sobre o que poderá ser um dia bem passado na cidade, especialmente para quem pretende visitar o Dubai pela primeira vez ou deixar-se guiar na descoberta da cidade. É também, naturalmente, uma viagem feita de escolhas, porque 24 horas é pouco tempo para conhecer o Dubai.

Manhã

Começa o dia com um mergulho. Na Kite Beach podes refrescar-te, fazer jogging, jogar ténis ou volley, fazer kite surf e outros desportos aquáticos, ou simplesmente apanhar banhos de sol, com vista para o Burj Al-Arab. Apenas podes entrar no hotel se fores hóspede ou cliente de um dos restaurantes e o mais interessante é mesmo o exterior do edifício. Este é o lugar perfeito para o veres, e ainda trabalhas para o bronze.
Se estiveres muito numa de praia, mantém-te por aqui mais um tempo. Se quiseres ir espreitar um pouco da vida dos parques, apanha um táxi para o Safa Park.
Safa Park, Dubai
Passeia pelo parque. Repara no contraste do enorme espaço aberto, plano, relvado, com a silhueta dos edifícios ao fundo. O Burj Khalifa vê-se daqui e percebe-se bem o quanto se destaca dos outros, que já são enormes. Cruza os vários expatriados que aqui vêm fazer jogging e diz “Hello” às crianças a brincar, vigiadas pelas nannies Filipinas. Aos fins de semana, debaixo das árvores e junto às áreas de barbecue vais ver famílias inteiras de Árabes e Indianos a preparar verdadeiros banquetes.
De volta à entrada principal do parque, apanha o autocarro 15 (ou um táxi, consoante o teu orçamento). Sai na paragem Al Fahidie Metro Station 2. Conta com 45 minutos de viagem, se fores de autocarro. À saída do autocarro já estás na zona do Bur Dubai, uma das mais antigas do Emirado.
Daqui dirige-te para o bairro histórico de Bastakiya, na Rua Al Fahidie (fica para baixo e para a direita de onde estás). A sua origem recua até 1690, mas esteve ao abandono durante anos. Era, originalmente, um bairro de mercadores Persas. Com a descoberta de petróleo no Golfo a maior parte das famílias que aqui viviam mudou-se para zonas mais modernas da cidade e as casas tradicionais, com as suas torres de vento e pátios interiores foram sendo usadas apenas como armazéns, abandonadas ou destruídas para construir escritórios e edifícios modernos. A renovação de todo o quarteirão remanescente iniciou-se apenas em 2005.
Badgirs em Bastakiya, Dubai
Perde-te no meio dos edifícios terracota, sobe aos telhados para apreciar a estrutura das torres de vento e a vista da cidade à volta, tão diferente. Sente o silêncio de 300 anos de história nos becos. Que contraste com o circo de cimento e aço que está lá fora. Senta-te nas praças a ouvir a chamada para a oração.

Almoço

Se for um domingo ou uma terça-feira, junta-te aos almoços culturais do Sheikh Mohammed Centre for Cultural Understanding (atenção: é preciso marcar). Este é um dos poucos sítios no Dubai onde podes provar a verdadeira cozinha Emirati. A refeição é acompanhada por um anfitrião local, com o objetivo de partilhar informação sobre a cultura do país. Os grupos podem ser grandes, mas é uma ótima oportunidade para fazer perguntas. Não sejas tímido.
Nos outros dias tens os pátios do Arabian Tea House (antigo Basta Art Cafe), para saladas e refeições leves, ou do Local House, famoso pelos pratos de carne de camelo.

Tarde

Depois de visitares as galerias de arte de Bastakiya está na hora de entrar mais a fundo na história do Dubai. Volta à Al Fahidie Street e dirige-te ao Forte Al Fahidi. Este é o edifício mais antigo do emirado e onde está agora o Museu do Dubai. Os dioramas e algumas das exposições são um pouco foleiras, mas é uma boa fonte de informação para perceber o que foi este lugar, antes dos arranha-céus.
Daqui caminha para Norte, em direção ao rio até chegares à Grand Mosque. Como o nome indica, é a maior do emirado. Aprecia o minarete de 70 metros e as várias cúpulas, de fora. A entrada é proibida a não muçulmanos. Continua na mesma direção e vais chegar ao Templo Hindu. De fora parece mais uma casa, com lojas à volta, mas as filas de gente à porta, as grinaldas de flores à venda para as oferendas e os homens de lungi são sinais indicativos que chegaste. Esta proximidade dos dois edifícios e a população que os rodeia é um bom exemplo da diversidade cultural do Dubai, um dos aspetos mais interessantes do país.
Forte Al Fahidi, Dubai
Chegando ao rio (Creek), junta-te aos habitantes nas suas voltas diárias e apanha um abra, o barco-taxi, para o outro lado. Vais ter de esperar que o barco encha para sair, mas isso acontece rapidamente. Cumprimenta a senhora com o sari colorido à tua direita, e o velhote chinês à tua esquerda. Em dez minutos vais estar em Deira.
Passeia pelo porto. Deste lado, a segunda zona mais antiga do Dubai, atracam os barcos de carga que transportam todo o tipo de mercadorias pela Península Arábica. Chamam-se Dowhs e há-os de todos os tamanhos, de madeira e com pontes azuis. A carga varia das sacas de comida às televisões e carros. Provavelmente vais-te deparar com a roupa da tripulação pendurada no convés e até pode ser que te convidem para subir a bordo.
Embrenha-te no interior do quarteirão, onde são os souks. Tradicionalmente divididos em áreas de comércio, hoje em dia são uma misturada de lojas de tecidos, móveis, souvenirs e comida mas mais para o lado esquerdo ainda existe uma zona dedicada às especiarias, o Spice Souk. Com muita persistência e alguma inocência pode ser que consigas negociar açafrão verdadeiro por uma ninharia e ainda trazer tâmaras cobertas de chocolate como oferta.
Bairro árabe de Bastakiya, Dubai
Se estiveres muito interessado em comprar ouro, o Gold Souk fica na ponta oposta do Spice Souk, mais para o interior (Norte). A mim parece-me demasiado turístico, mas a relação qualidade/preço do metal aqui é das melhores do mundo portanto se estás à procura daquele presente especial este é o lugar.

Fim de tarde

Apanha um barco-taxi de novo, mas desta vez negoceia para tê-lo só para ti. Deverá custar-te à volta de 80 UAD por uma hora. Pede ao condutor que te leve a dar uma volta pelo Creek acima, para sudeste para apreciares ambas as margens com a luz perfeita do fim de dia.
Do lado esquerdo vão surgir os edifícios modernistas que inspiraram todas as construções megalómanas que continuam a aparecer e caracterizar o Dubai. A esta hora a folha de vidro polido que cobre o National Bank of Dubai (inspirada nas velas dos Dowhs) parece arder ao refletir o laranja do pôr-do-sol. Logo a seguir, outro cais, maior, com um contraste interessante entre os Dowhs e o horizonte recortado de arranha-céus.
Depois do sol se pôr tens duas hipóteses:
  • Se fores fazer o teu próprio jantar, pede ao condutor do barco para te deixar o mais próximo possível do Mercado do Peixe, em Deira (Deira Fish market). Aqui podes encontrar o peixe fresco mais barato de todo o Dubai, e ainda ter um cheirinho do que é o comércio local. Literalmente. Os teus pés e/ou sapatos vão transportar esse cheirinho com eles, mas vais-te esquecer disso tudo quando olhares para o tamanho dos camarões. Prepara-te para negociar a sério, ou não vais conseguir preços justos.
Mercado de Peixe, Dubai

Mesmo que não queiras cozinhar, e se gostares de mercados, vale a pena passar por aqui. A confusão de vozes a apregoar e negociar, os gestos das pessoas a escolher e pegar no peixe, os guinchos das gaivotas que vêm em bandos tentar apanhar os restos e o tal cheirinho que te vai acompanhar lembram o que deve ter sido esta zona na altura dos apanhadores de pérolas e pescadores que fundaram a cidade.
  • Volta ao teu hotel, descansa um pouco e muda de roupa. Para sair à noite tens de estar arranjado. Meninos, nada de calções e t-shirts velhas; meninas, saltos altos de preferência, ou uma roupita que compense a ausência deles. Para as opções propostas, o dress code é casual chic. Sim, é ridículo, mas o Dubai é mesmo assim.

Noite

Não vale a pena jantares antes das 9 da noite. Se não optaste por comer em casa, apanha um táxi para oIbn Hamido. Existe uma grande comunidade de Egípcios no Dubai, e este é o restaurante que eles recomendam para comer peixe e marisco à sua maneira. É uma sala enorme, com mesas e cadeiras de madeira escura. As paredes estão cobertas de fotos de artistas e atores antigos, há um aquário gigante no meio da sala e uma mesa de exposição de onde escolhes o peixe que queres e a maneira como queres que seja cozinhado. É tudo bastante foleiro, mas nem vais pensar nisso enquanto comes a sopa de marisco. Prova também os camarões tigre, e pede para te grelharem o peixe à maneira egípcia (é marinado e vem coberto com especiarias. Se não gostas de cominhos, então pede para ser só grelhado).
Skyline do Dubai à noite
Depois de jantar é hora de um pezinho de dança. A cultura dos clubes por aqui pode ser bem snob, mas estes dois têm um ambiente mais descontraído, e a música foge dos êxitos pseudo-eletrónicos comerciais da maioria dos sítios. Se for sexta-feira, as noites Electric Days no Tamanya Terrace do hotel Radisson Blu são famosas pelo ambiente descontraído e pela boa música eletrónica (dentro do House e Techno, dependendo do DJ). Lembra-te de enviar um email com o teu nome para doorlist@electricdays.net logo de manhã. A entrada são 100UAD. Podes considerar jantar mais cedo. A festa começa ao pôr-do-sol, portanto já vai estar bem animada.
Nos outros dias, vai até ao 360º. No fim do passeio da marina do Jumeirah Beach Hotel, este bar fica literalmente em cima do mar. É dos sítios mais descontraídos para sair à noite (mesmo assim, atenção) e aos fins de semana tem uma boa programação de House para dançar. Durante a semana bebe um copo, fuma uma shisha e aprecia a vista.
A noite, por comparação com Portugal, acaba cedo. Os clubes fecham por volta das 3. Mas depois disso é altura de reunir com o resto da malta da noite no Zaroob e ensopar um pouco o álcool com comida de rua Libanesa. Este restaurante pega nesse conceito, mas leva-o para dentro de portas, num espaço colorido e relaxado, com tetos altos e cozinhas abertas. Na estação fresca, fica no pátio, nas mesas com bancos corridos. Empanturra-te com Man’oushes, ovos na frigideira, hummusfalafel e foul.
Restaurante Zaroob Dubai
Vai dormir de barriga cheia.

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